sábado, 4 de julho de 2009
A poesia de Antônio Lázaro de Almeida Prado
A poesia de Antônio Lázaro de Almeida Prado
Por Thiago de Mello
Quero fazer um gesto de amor para um poeta que chega cantando na minha
vida. Valeu a pena não ter sido fuzilado no muro chileno e a bondade do Adib
ter amarrado as minhas coronárias.
É um poeta que acabo de encontrar e, sem embargo, já é dos meus prediletos.
Tardei a conhecê-lo. Moro na lonjura da floresta. Mas ele já me freqüenta
poderosamente.
Devo essa alegria a um gesto generoso de sua filha, que carece da poesia
como de água cristalina. Ela me abriu o caminho das palavras paternas
encantadas.
Por que esse poeta ficou predileto?
Porque me deu a felicidade inefável, que só a verdadeira poesia sabe inventar.
Levado pelo rigor com que leio, seja um companheiro de 20 anos, que me traz
seus primeiros versos, ou um poeta dono de seu destino, vi que se tratava de
um mestre, senhor do seu ofício, como o carpinteiro que domina o âmago da
madeira para fazer a mesa, como o ourives trabalha a esmeralda.
Poeta que maneja o idioma português como poucos, que ouviu Mallarmè dizer:
Pas de musique, pas de poèsie.
É um artista musical, de sonoridade entranhável, de tal sorte, que escuto a ele
próprio, quando em voz alta entrego ao vento os seus versos que se espalham
contentes pelas águas do meu rio Andirá, amado braço do Amazonas.
Até parece feito para meu contentamento este verso que confirma o que venho
dizendo: o forte sortilégio deste poeta, o dom, servido pelo perseverante
trabalho.É um decassílabo: Translúcido furor da luz nascente. O que quer
dizer? Não importa. A gente nem precisa saber o que quer dizer. Dá uma
alegria enorme!
Tenho motivos felizes para a escolha de um poema que me acompanha: Neste
rio de meus sonhos. Digo os seus versos, quando amanhece, debruçado no
parapeito da bela casa que Lúcio Costa projetou para mim lá na floresta.
Entrego ao meu rio o milagre das palavras do meu poeta Antonio Lázaro de
Almeida Prado.
Neste rio de meus sonhos
Neste rio de meus sonhos nado, atento,
Em lúcido delírio, em claro êxtase,
E busco, na imersão, a prova viva
De que nele, ao perder-me, é que me encontro...
Nele me vi, qual aprendiz de asceta,
Unido, mas distinto, e, comparado,
Atleta de meus ritmos ousados,
Impondo bela ordem a meus caprichos.
Nele me vi, num lance aventuroso,
Parceiro do tremor, que te domina,
Simétrico do caos e da indigência.
Ao capricho das ondas desmedidas
Impus este meu ritmo liberto,
Que sonha, quanto mais estou desperto...
Lúcido Sonho
"No amanhecer do dia em que será repartida com todos a esmeralda da poesia
de Antonio Lázaro, os pássaros da floresta cantarão o nome do poeta pelo bem
que a sua arte faz à beleza da vida."
Thiago de Mello
.
COMPARTILHADO
Solitário indivíduo estendo pontes
E solidário me faço além do espaço
Exíguo deste corpo agreste e lasso,
Navegando para além dos horizontes.
Compartilhada vida só em parte
Pois que, por outra parte, fujo à ilha,
E desfruto a perpétua maravilha
De à angusta solidão fugir com arte.
Solitário, mas sempre solidário,
Fugindo ao tempo precário e repartido,
No bem do amor encontro o meu sacrário
E tudo o que é bem meu eu condivido
Não vendo noutro ser algo contrário
Mas o que faz o inferno suprimido.
Assis, 15 de junho de 2007
Antônio Lázaro de Almeida Prado
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